Ferramenta Educativa



Ferramenta para professores - "Como fazer um Book Trailer"
                                           

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Recurso Educativo Dia Mundial da Água





Recebemos  este  recurso da  professora Lucília Carneiro !

Obrigada pela partilha!

José Eduardo Agualusa – A literatura para aproximar as pessoas

Recurso Educativo A HISTÓRIA DE ARTE NUM MINUTO

                                                                       

Esta animação pelo artista Cao Shu faz um panorama visual da História da Arte, passando por diferentes linguagens visuais que se desenvolveram ao redor do mundo e ao longo do tempo. Vale pausar em alguns momentos para apreciar os desenhos e quadros que compõem o filme. 







OS LIVROS SÃO FANTÁSTICOS



Cresci rodeada de livros  desde pequena. Havia livros pelas mesas  da sala, empilhados na secretária do meu pai, que os comprava por grosso, nos nossos quartos de dormir e até nos corredores.  

Os  meus pais tinham o gosto de partilhar  connosco as obras que tinham apreciado, e de tratar os autores como  mestres. Sublinhavam frases nos livros, decoravam poemas e  desafiavam-nos a memorizá-los.  

Em qualquer aniversário ou Natal  pedíamos livros e  ficávamos desejosos de os ler e partilhar.
Queríamos ter a coleção completa das aventuras,dos romances policiais e de mistério…

Nas minhas férias, lia  tardes inteiras até ser interrompida pela mãe: “ Olha os teus olhos!  Faz uma pausa e vai  esticar as pernas!
E eu dizia  que sim, que ia  e continuava teimosamente a “devorar” o livro.

Na verdade, comecei cedo a ser  dependente de ler.
Lia  tudo aquilo que me chamava a atenção pelo título, pelo autor, pela ilustração da capa…
Ficava entusiasmada  com uma obra volumosa, sabia que me embrenharia nela durante dias a fio.
Tinha uma pequena lanterna para poder ler, pela noite fora…

Certo é que  tínhamos livros sobre variadíssimos temas, sem  haver   a preocupação de  os organizar. 
Era uma biblioteca caótica, a casa de meus pais.
Toda a família lia,  fazia  troca de livros, e opinava sobre eles.


Lembro-me da  Coleção dos Livros do Brasil,  obras  de autores brasileiros  e a  Coleção Dois Mundos,dezenas de romances de autores de língua inglesa, francesa, alemã e russa.

E ainda havia os Clássicos, encadernados a vermelho ou azul, de folhas finas, que  eu abria com cuidado, tantas vezes  sem conseguir  entender o que lia logo na primeira página,  como o Aquilino Ribeiro, ou o Alexandre Herculano.

Tendo a mãe fã  dos Clássicos da Literatura, era incentivada a  aventurar-me na leitura de obras que me eram difíceis de ler ou de entender devido à sua complexidade,  tantas vezes desisti de as “explorar” com a esperança de o fazer mais tarde.

Muitos desses Clássicos velhinhos, são obras inesquecíveis que me marcaram, e outros  não me agradaram apesar do esforço feito para as  “desbravar”.
Hoje, os livros novos florescem, por toda a parte, mas os Clássicos continuam a ser lidos com prazer, apesar do contexto social e cultural ter mudado completamente.  A leitura de um Clássico  desafia o nosso entendimento e  faz-nos entrar na máquina do tempo…
Só  posso partilhar convosco que não imagino a minha vida sem livros, e como ler pode causar dependência. 
Ao comemorar o Dia Mundial do Livro não consigo enunciar apenas UM LIVRO que nunca esqueci,  há  centenas de livros que valem a pena, que continuam a marcar  quem  tem a sorte de os  ler.  
                                         Os LIVROS  são  FANTÁSTICOS !



LER SEMPRE...


SEMANA DA LEITURA


                                                              LEMBRAM-SE ?   

                                Estas   atividades  serão  continuadas  no  nosso Blogue !

ADEUS, LUÍS SEPÚLVEDA

Luís Sepúlveda é um contador maior"     (Lídia Jorge)


      A escritora Lídia Jorge,  recordou o primeiro contacto que teve com a obra de Luís Sepúlveda, em Bruxelas, em 1991, por intermédio da editora Anne Marie Métailié. 
Para Lídia Jorge, o que torna a escrita de Sepúlveda “tão singular e atraente” tem a ver com o “testemunho de uma experiência de vida vivida no fio da navalha que lhe deu a dimensão dos movimentos subterrâneos que determinam a mudança do mundo, e por isso o seu olhar é político. 
E uma ternura absoluta pelos seres da Terra que lhe permite uma efabulação fantástica em que pássaros, cães, baleias, confraternizam com os seres humanos no mesmo reino da Criação. Por isso as páginas de Luís Sepúlveda, escritas para auditórios de todas as idades, estão repletas de fábulas ora violentas ora mansas, mas sempre tocadas por uma singular arte de contar”.
“Luis Sepúlveda é um contador maior”, considerou ainda a escritora, acrescentando que “os seus livros são joías preciosas, marcados pela terra sul-americana que lhe deu origem, pela língua espanhola que lhe deu a plasticidade vigorosa da narrativa, e sobretudo pelo cunho de criador incomum, que lhe permite ser traduzido e amado em todas as línguas”.

Biografia
Luís Sepúlveda nasceu Ovalle, no Chile, em 1949. Reside actualmente em Gijón, na Espanha, após viver entre Hamburgo e Paris. Membro activo da Unidade Popular chilena nos anos setenta, teve de abandonar o país após o golpe militar de Pinochet. Viajou e trabalhou no Brasil. Uruguai, Paraguai e Peru. Viveu no Equador entre os índios Shuar, participando numa missão de estudo da UNESCO. Sepúlveda era, na altura, amigo de Chico Mendes, herói da defesa da Amazónia. Dedicou a Chico Mendes “O Velho que Lia Romances de Amor”, o seu maior sucesso. Perspicaz narrador de viagens e aventureiro nos confins do mundo, Sepúlveda concilia com sucesso o gosto pela descrição de lugares sugestivos e paisagens irreais com o desejo de contar histórias sobre o homem, através da sua experiência, dos seus sonhos, das suas esperanças.
Principais obras
  • Diário de um  Killer  Sentimental
  • Encontro de Amor num País em Guerra
  • História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar
  • Mundo do Fim do Mundo
  • Nome de Toureiro
  • O Velho que Lia Romances de Amor
  • Patagónia Express

2.º Livro " OMBELA" de ONDJAKI




O livro foi editado pela editorial Caminho  em 2015  depois de já ter tido edição no Brasil e em Angola, onde foi distinguido com o "Prémio Caxinde do Conto Infantil" em 2011. Escrito por ONDJAKI e ilustrado maravilhosamente por Rachel Caiano.
Na história,  Ombela é  uma menina, filha de deuses, que tem o  poder da criação da chuva, através da tristeza e das lágrimas salgadas, que enchem oceanos.
É o pai dela que lhe ensina que "a tristeza faz parte da vida" e que também se pode chorar de felicidade, com lágrimas doces que enchem rios e lagos.
Conto  encantador   que recomendamos para todos, principalmente para os  pequenos.

1.º Livro "O Amor em Tempos de Cólera”

        
                             
           “O Amor em Tempos de Cólera” 
                                    
         Gabriel Garcia Marquez
      
  (em versão português do Brasil )

- O que te inquieta, menino? Não tens comida suficiente?  Não dormes o suficiente?
- Não é isso, Capitão.  É que não suporto não poder ir à terra e abraçar minha família.
- E se te deixassem sair do navio e estivesses contaminado, suportarias a culpa de  infectar       alguém que não tem condições de aguentar a doença?
- Não me perdoaria nunca, mas para mim inventaram essa peste.
- Pode ser, mas e se não foi inventada?

- Entendo o que queres dizer, mas me sinto privado da minha liberdade, Capitão, me     privaram de algo.
- E tu te privas ainda mais de algo.
- Está de brincadeira, comigo?
- De forma alguma. Se te privas de algo sem responder de maneira adequada, terás perdido.
- Então quer dizer, segundo me dizes, que se me tiram algo, para vencer eu  devo  privar-me de mais alguma coisa por mim mesmo?
- Exatamente. Eu fiz quarentena há 7 anos atrás.
- E o que foi que tiveste de te privar?

- Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia. No Porto Abril nos proibiram de descer.  Os primeiras dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica.   Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. Comecei com o alimento. Me impus comer a metade do quanto comia habitualmente.  Depois comecei a selecionar os alimentos de mais fácil digestão, para não sobrecarregar o corpo.  Passei a me nutrir de alimentos que, por tradição histórica, haviam mantido o homem com saúde.

O passo seguinte foi unir a isso uma depuração de pensamentos pouco saudáveis e ter cada vez mais pensamentos elevados e nobres.
Me impus ler ao menos uma página a cada dia de um argumento que não conhecia. Me impus fazer exercícios sobre a ponte do barco. Um velho hindu me havia dito anos antes, que o corpo se potencializava ao reter o alento.  Me impus fazer profundas respirações completas a cada manhã. Creio que meus pulmões nunca haviam chegado a tamanha capacidade e força. A parte da tarde era a hora das orações, a hora de agradecer a uma entidade qualquer por não me haver dado, como destino, privações graves durante toda minha vida.
O hindu me havia aconselhado também a criar o hábito de imaginar a luz entrando em mim e me tornando mais forte.  Podia funcionar também para as pessoas queridas que estavam distantes e, assim, integrei também esta prática na minha rotina diária dentro do barco.
Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante.
Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. Eu me privei de alimentos suculentos, de garrafas de rum e outras delícias. Me havia privado de jogar baralho, de dormir muito, de praticar o ócio, de pensar apenas no que me privaram.
- Como acabou, Capitão?
- Eu adquiri todos aqueles hábitos novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo     depois  do previsto.
- Privaram vocês da primavera, então ?
- Sim, naquele ano me privaram da primavera, e de muitas coisas mais, mas eu,  mesmo   assim floresci,  levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.

LER DEVIA SER PROIBIDO ?


LER   DEVIA  SER  PROIBIDO ???
                                     
"Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo (…) em que vivem. 

A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. 

Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. 
Liberta o homem excessivamente.

Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer.

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos.

Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia.
Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal.

Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens.

Não, não dêem mais livros às escolas.
Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente.

Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança.

Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam.
Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. 

A leitura …expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio.


A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida."

       
       "Ler pode tornar o homem perigosamente humano."




Excertos   de  "Ler  devia ser proibido " 
     
Guiomar de Grammont  in PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999